
Indissociabilidade na
EPT
A Indissociabilidade
Com a equiparação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia às universidades, já em seu processo de constituição, podemos dizer que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão passa a fazer parte da própria origem dos Institutos Federais, reforçando um compromisso de dialogar com uma formação para a cidadania.
A tríade se estabelece como um dos pilares fundamentais para a sustentação de uma formação integrada, abrangente e significativa, promovendo práticas para o mundo do trabalho.
A própria missão institucional do Colégio Pedro apresenta esse compromisso: "promover educação de excelência, sendo pública, gratuita e laica, por meio da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, resultando na formação de pessoas capazes de intervir de modo responsável na sociedade."
Abaixo um vídeo com uma linha do tempo sobre a indissociabilidade:
A palavra indissociabilidade apresenta não apenas a necessidade de contemplar o ensino, a pesquisa e extensão, mas sobretudo que existam de forma integrada e buscando equilíbrio entre esses três pilares.
Cada um deles será apresentado a seguir, mas acrescentaremos a cultura, para auxiliar nessa reflexão por uma formação que abrange todas as dimensões do ser humano.
Destacaremos a importância individual, entretanto ressaltando a necessidade de um equilíbrio e integração entre elas no processo educacional dos estudantes, principalmente quando pensamos numa formação integral.


O ensino para uma formação integral
A formação integral abrange todas as dimensões é multidimensional, para Araujo e Frigotto (2015) pensar numa formação integral é uma proposição pedagógica para uma formação ampla, comprometida com o direito de todos.
Antunes e Padilha (2010) destacam que para a existência de uma educação integral precisamos de uma Escola Cidadã, essa escola segundo os autores busca o exercício mais crítico e ativo da cidadania, ultrapassando a simples transmissão de conteúdos, nessa proposição os docentes exercem seu trabalho com autonomia, justiça social e de forma colaborativa.
A existência de espaços colaborativos entre docentes de diversas áreas propiciam troca de saberes e experiências, resultando em práticas pedagógicas mais contextualizadas e ampliando repertório de estratégias de ensino. Esse intercâmbio proporciona perspectivas diversas no planejamento, além de uma cultura colaborativa dentro da instituição, com um ambiente que favorece um desenvolvimento profissional contínuo.
Uma diversidade de abordagens contribui para uma visão mais abrangente e criativa no processo de educação. Em projetos interdisciplinares é possível estimular a participação ativa dos alunos, demonstrando uma conexão entre as disciplinas e a aplicabilidade dos conteúdos estudados na comunidade escolar na qual a instituição está inserida.
ANTUNES, Angela; PADILHA, Paulo Roberto Montório. Educação cidadã, educação integral: fundamentos e práticas. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2010.
ARAUJO, Ronaldo Marcos de Lima; FRIGOTTO, Gaudêncio. Práticas Pedagógicas e Ensino Integrado. Revista Educação em Questão, Natal, v. 52, n. 38, p. 61-80, maio/ago. 2015.

A pesquisa como princípio pedagógico
A pesquisa desempenha um papel de relevância na formação dos alunos que integram os Institutos Federais. Através de atividades de pesquisa é possível desenvolver habilidades fundamentais para uma formação integral, trazendo também contribuições para os conhecimentos científicos e tecnológicos.
Segundo Freire (2021), não existe ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino, pois um necessita ir ao encontro do outro, sendo assim, deveria naturalmente fazer parte da prática docente a pesquisa, a indagação e a busca. Uma prática pedagógica exige pesquisa, respeito, criticidade e curiosidade. De acordo com o autor uma “curiosidade epistemológica”, construída nesse exercício crítico de aprender, ou seja, uma curiosidade metodicamente rigorosa que se opõe à curiosidade ingênua, associada ao senso comum.

Nesse sentido para Ramos (2014) a pesquisa deve ser pensada como um princípio pedagógico relacionada ao trabalho como um princípio educativo, pois uma educação de concepção integrada propicia formação de sujeitos que, através de sua autonomia de pensamento, possam compreender que seu trabalho consegue transformar a natureza a partir de suas necessidades subjetivas e sociais e assim vão produzindo conhecimento.
Ao se pensar em pesquisa para a formação humana, “o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política.” (RAMOS, 2014, p.86)
É possível que se aprenda buscando evidências, desenvolvendo argumentos, questionando, analisando e interpretando informações com atividades ativas e práticas de uma forma embasada e fundamentada nos estudos que serão desenvolvidos. Essa oportunidade propicia o desenvolvimento de cidadãos críticos e reflexivos, curiosos e criativos que tomam suas decisões e pensam por caminhos que podem gerar soluções inovadoras.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia (Edição Especial) - Saberes necessários à prática educativa. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2021.
RAMOS, Marise Nogueira. História e política da educação profissional, Curitiba: Instituto Federal do Paraná, Coleção formação pedagógica; v. 5, 2014. Disponível em: <https://ifpr.edu.br/curitiba/wp-content/uploads/sites/11/2016/05/Historia-e-politica-da-educacao-profissional.pdf> Acesso em: 2 maio 2023.
Extensão como comunicadora de saberes
As atividades de extensão se apresentam como valiosas oportunidades para conectar as atividades acadêmicas com as demandas sociais. Goulart (2004) e Gadotti (2017) indicam a existência de duas vertentes de pensamento sobre a extensão: Uma como assistencialismo e por essa prática uma ação de transmissão de conhecimento unilateral, associando a postura com um trabalho filantrópico. Já a segunda vertente, de acordo com os autores, entende a extensão como uma comunicação de diversos saberes, nessa perspectiva as práticas de extensão podem vincular-se ao ensino, pesquisa e cultura numa perspectiva para uma formação integral.
Essa conexão entre a academia e a sociedade permite que estudantes e docentes sejam agentes transformadores, capazes de promover mudanças significativas em diferentes áreas, como saúde, educação, meio ambiente, entre outras. Dessa forma, nos institutos federais essa atividade pode ser vista como uma estratégia eficaz para formar cidadãos mais conscientes, críticos e comprometidos com a construção de um futuro melhor para todos.
A extensão é uma das dimensões do processo educativo que não pode ser separada do ensino e da pesquisa, deve portanto ser uma prática dialógica e de compromisso com a realidade social, contribuindo para a formação de uma consciência crítica e transformadora. Anjos e Sobral (2018) destacam essa indissociabilidade como um caminho para escuta de mão dupla, entendendo a escola como produtora de conhecimento e reforçando a importância para uma educação emancipadora, “a extensão se torna uma amálgama da tríade, porque é por via dela que ouvimos as vozes da comunidade e trocamos conhecimentos que podem modificar olhares”. (ANJOS e SOBRAL, 2018, p.90)
ANJOS, Maylta Brandão; SOBRAL, José Montório. O Papel da extensão e sua contribuição na produção do ensino e da pesquisa: pensando o IFRJ. In: PEREIRA, Marcus Vinícius; ROÇAS, Giselle (org.). As nuances e o papel social dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: lugares a ocupar. João Pessoa: Editora IFPB, p. 89-123, 2018.
GADOTTI, Moacir. Extensão Universitária: Para quê?. Instituto Paulo Freire, 2017. Disponível em ttps://www.paulofreire.org/images/pdfs/Extensão_Universitária_-_Moacir_Gadotti_fevereiro_2017.pdf
GOULART, Audemaro Taranto. A importância da pesquisa e da extensão na formação do estudante universitário e no desenvolvimento de sua visão crítica. Horizonte: Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 60-73, 2004.

A Cultura na perspectiva intercultural crítica
A promoção da diversidade cultural nos Institutos Federais permite aos estudantes uma aproximação com a realidade social, cultural e econômica em que está inserido, desenvolvendo um olhar mais sensível e comprometido com as demandas da sociedade. Nessa direção Candau (2011; 2018) enfatiza que para se potencializar os processos de aprendizagem de forma mais significativa a dimensão cultural é imprescindível. A autora destaca a importância da inclusão da cultura no processo de ensino e aprendizagem, sendo um elemento fundamental para a formação do indivíduo, pois permite que ele compreenda o mundo à sua volta e desenvolva sua própria identidade.
Com a cultura podemos construir pontes entre diferentes grupos sociais, pois é um elemento que está presente em todas as sociedades e que é partilhado por todos. Nesse contexto a cultura na educação é uma forma de aumentar a visibilidade das diferenças étnico-raciais, de gênero, orientação sexual, religiosas, entre outras. É uma forma de valorizar as diferenças e de combater o preconceito e a discriminação, um instrumento de transformação social capaz de promover a cidadania e justiça social.
A valorização da cultura contribui também para o fortalecimento das relações entre as comunidades locais, promovendo o diálogo intercultural e a valorização das tradições e manifestações culturais de cada região.
A cultura é primordial para a promoção da diversidade, da cidadania e do diálogo intercultural. Isso contribui para a formação de profissionais críticos, reflexivos e comprometidos com as demandas da sociedade, capazes de promover ações transformadoras e desenvolver soluções inovadoras para os desafios do mundo contemporâneo.
CANDAU, V. M. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas pedagógicas. In: Currículo sem Fronteiras, vol 11, nº 2, p. 240-255, 2011.
CANDAU, V. M. Educação intercultural e práticas pedagógicas. In: SILVA, Marco; ORLANDO, Cláudio; ZEN, Giovana. Didática: abordagens teóricas contemporâneas. Salvador: EDUFBA, p. 275-287, 2018.



Após a leitura do Projeto Político Pedagógico Institucional, preparamos um vídeo com um breve resumo de como são apresentados nesse documento o ensino, a pesquisa, a extensão e a cultura.
Apesar de identificarmos a importância dessa indissociabilidade, reconhecemos também que é um desafio conseguir de fato realizá-la com equilíbrio, pois temos perfis docentes distintos, inclusive em seus processos de formação para exercer a docência, e ainda questões burocráticas, a própria gestão do tempo e sua organização no Plano de Trabalho Docente.
Entretanto buscar o protagonismo docente através de sua formação no trabalho diariamente, possibilita um refletir constante também sobre a sua prática com um diálogo contínuo com o conhecimento, envolvendo os discentes nesse processo.
Para ser verdadeiramente um tripé indissociável, perpassando pela cultura faz-se necessário o propósito de suas existências de forma integrada e com o propósito de formar cidadãos mais críticos e conscientes de sua responsabilidade social, pensando não apenas dentro de sala de aula, mas ampliando esses espaços para fora dela também.
A indissociabilidade faz parte da missão institucional do Colégio Pedro II, como apontado acima e, portanto, os estudos para essa consolidação precisam existir. Esperamos que esse produto educacional contribua para um refletir sobre o tema.